A nutrição foi minha segunda faculdade. Eu era professora de inglês. Muitas pessoas dizem que uma não tem nada a ver uma com a outra, mas hoje eu sei que devido a isso, consigo ensinar o paciente a mudar seus hábitos ao invés de entregar um cardápio pronto e pedir que apenas siga com dedicação. Muitas vezes é cansativo fazer isso em cada uma das consultas do dia. Ensino o que são e quais são os alimentos mais densos nutricionalmente, quais viram açúcar no corpo e os que não são tão saudáveis assim como têm fama de ser. Depois disso, escrevo uma cartinha para cada um contando como eles comiam, o que eu mudei e porque. Dá trabalho, mas é gratificante e faz com que o paciente se sinta especial e com que a dieta faça sentido pra ele.
Minha mãe foi uma das primeiras pessoas a fazer a cirurgia bariátrica aqui na minha cidade. O excelente médico que fez a cirurgia, é meu amigo de infância e até hoje faz isso e cada vez melhor. Na época não se falava muito na importância do acompanhamento nutricional para esses pacientes bariátricos e ela, como todos, comia o mesmo que comia antes só que em pequenas quantidades.
Um dia, depois de horas sem comer (logo após a bariátrica deve-se comer mais vezes no dia), voltando do supermercado minha mãe teve uma hipoglicemia dirigindo e nem lembrava mais para onde estava indo. Por sorte, conseguiu chegar, mas ao descer do carro desmaiou no portão de casa e teve uma convulsão no chão, segundo relato do meu vizinho que a resgatou. A partir desse episódio, ela passou a ter crises noturnas assustadoras e cada vez que isso acontecia, os neurologistas aumentavam a dose do medicamento. Com isso minha mãe estava ficando totalmente estranha. Tinha tremores, falta de equilíbrio, seu olhar estava diferente, a memória afetada e, mais crises aconteciam eventualmente. Não tínhamos mais sossego e sabíamos que estava piorando.
Encontrei depois de muita busca uma neurologista maravilhosa que salvou nossa vida e me fez decidir que eu queria ser nutricionista. Dra. Kette Dualib Valente. Como diz seu último nome, ela foi contra tudo o que diziam e me explicou que minha mãe não tinha proteínas no corpo devido a bariátrica. Por isso, o remédio que tomava não chegava até dentro das células e não podia fazer efeito. Com as drogas no sangue, minha mãe estava ficando intoxicada. Depois disso ela foi devidamente desintoxicada, passou a cuidar da ingestão de proteínas, trocou os medicamentos e parou de ter crises. E nesse momento eu vi que a alimentação, os nutrientes e o suporte nutricional, são a base de toda nossa saúde.
Quero deixar claro que não sou contra a cirurgia bariátrica. Assim como cuido da minha mãe hoje e ela está ótima, cuido de muitos pacientes que estão devidamente suplementados e se alimentando bem (além de estarem mantendo o novo peso). Mas, é necessário entender que a bariátrica é um atalho e não um milagre. É preciso mudar toda uma vida de maus hábitos e escolhas ruins. É preciso, aos poucos, treinar a cabeça a pensar de acordo com o novo estômago. Se isso tudo não acontece, as pessoas voltam a engordar.
Hoje sou especialista em dieta low carb, cetogênica, ensino a aplicar o jejum intermitente devidamente, cuido de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como câncer, diabetes, obesidade, doenças auto-imunes etc. Estou concluindo minha pós em ortomolecular e já estudei fitoterapia para auxiliar melhor meus pacientes com suplementação necessária para cada caso.
Eu fui criada em meio a pessoas obesas e com uma relação intensa com a comida. Fui obesa quando adulta, mais de uma vez. Além de tudo, sou a caçula de dois irmãos que comiam tudo antes de mim e me fazem até hoje, comer olhando para a travessa. Hoje em dia, mesmo comendo bem, me perco de tempos em tempos. Como em qualquer vício, trabalho isso diariamente e quero ajudar você também a passar por isso cada vez menos.
Dra. Marianne W Boloçôa